terça-feira, abril 21, 2009

Tempo de ser imaginativo?!

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Faço a transcrição do meu último artigo publicado no Diário Económico, em 8 de Abril de 2009


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Os tempos de crise revelam um conjunto de talentos e de empresas que tiveram capacidade de pensar de forma estratégica, prosperando.

As épocas de crise são sempre particularmente sombrias. Previsões económicas revistas sucessivamente em baixa, notícias em que o tom pessimista predomina. Como se o mundo fora acabar em breve...Uma leitura atenta da História, contudo, demonstra à sociedade como as previsões de um teor apocalíptico são tão coevas quanto a humanidade...Os tempos de crise revelam, por surpreendente que possa parecer, um conjunto de profissões, de talentos e de empresas que tiveram capacidade de pensar de forma estratégica, prosperando. As páginas do Diário Económico, por exemplo, são disso um bom exemplo, apresentado empresas e empresários que aprenderam a pensar o futuro. Muitas vezes, isso quer dizer uma capacidade, inata ou educada, para observar o que fazem os concorrentes. Veja-se o que fizeram os fabricantes nipónicos no pós-guerra. Um país arruinado, ocupado militarmente, com um novo sistema político, cidades arrasadas...Não nos atreveríamos a chamar um país em crise, ao Japão de 1945, mas sim um país arrasado. E o que fizeram a Toyota, a Honda e outros? Começaram por copiar, e melhorar depois, os veículos das forças armadas norte americanas. Melhorando sucessivamente aquilo que os seus concorrentes, os grandes fabricantes americanos faziam. Copiar, melhorar, inovar o modelo japonês de sobrevivência face a uma catástrofe: a derrota militar da segunda guerra mundial. Em tempos de crise pede-se às empresas, por paradoxal que possa aparentar, uma atitude e um esforço de investimento em saber mais, em qualificar recursos humanos, em internalizar competências. Um investimento em contra ciclo que se veio revelar como o verdadeiro sustentáculo para o futuro. Uma atenção ao que nos rodeia, uma capacidade para observar, trabalhar e ler. Muito de todos. Algo que, por exemplo, as todo poderosas empresas de transporte ferroviário, no início do século vinte não fizeram. Escudadas em milhões de clientes e accionistas, em centenas de engenheiros, cometeram o pecado da miopia de marketing. Esqueceram qual o seu negócio. Que não estavam no negócio do caminho-de-ferro mas sim no negócio do transporte e no da aproximação de coisas e pessoas. E por isso não atentaram que umas pequenas empresas, nascidas em vãos de escada, mas usando uma tecnologia bastante diferente, se estavam a preparar para as destronar...Empresas com nomes como Daimler, Renault, Peugeot, Mercedes...Em poucas décadas, as omnipotentes empresas do caminho-de-ferro soçobraram e em seu lugar surgiram as do automóvel, tecnologia menos eficiente mas muito mais eficaz a satisfazer as necessidades de mobilidade dos cidadãos e empresas. A capacidade de descobrir necessidades não satisfeitas, novos mercados e novas formas de fazer produtos e serviços, é a marca distintiva que separará empresas vencedoras das perdedoras. Quebrar a miopia de marketing fará a diferença em tempos de crise. Veja-se, por todos, o caso da cadeia de ‘lingerie' feminina, Victoria's Secret (na Europa, Intimissimi, conquanto esta seja um conceito um pouco diferente). Fazendo várias viagens regulares à Europa, o fundador do grupo de retalho de vestuário Limited tinha reparado que as senhoras europeias compravam ‘lingerie' em pequenas ‘boutiques', de aspecto cuidado e serviço personalizado. Compras essas que resultavam de um acto voluntário, deliberado. Frequente. Em contraste com o que se passava nos EUA onde a mesma compra era efectuada num grande armazém, em espaço mais impessoal, e mais numa lógica de roupa interior, infrequente e menos numa outra de sensualidade e sedução. Importar o conceito e adaptá-lo ao mercado norte-americano, primeiro (e nenhum europeu se lembrara disto?!!), capitalizando na tendência de se casar mais tarde, namorando mais; depois notando que as compras eram feitas pelas mães cada vez mais na companhia das filhas, o que resultou num alargamento da linha de produtos para as crianças e adolescentes femininas...Reinventando o posicionamento da ‘lingerie', alterando o conceito de algo para adultos. Depois, a criação das supermodelos Victoria's Secret, posando e desfilando com asas à laia de anjos...Fazendo sonhar...E finalmente, supremo talento empresarial, expandindo a marca a todo o mundo, em particular à Europa...! Crise? Não para todos...


paulo.marcos@marketinginovador.com
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Paulo Gonçalves Marcos, Economista e gestor de empresas


Comentários

Carlos Gonçalves, Lisboa | 13/04/09 15:31
Absolutamente de acordo. O caso português é um exemplo de mercado onde há nichos onde vale a pena investir, mesmo em tempo de crise, apostando na diferenciação.


Inês Gil Forte, Lisboa | 13/04/09 17:51
A história repete-se e tal como Portugal volta a África, podemos estar de novo a preparar fase de inovação e crescimento...
Há que aproveitar...É preciso é querer!


Eunice Almeida, Mafra | 15/04/09 00:28
Felizmente tudo bem. E a sua? As corridas conseguem combater os excessos da Páscoa?

Ainda bem que enviou o link.

Gostei muito ler! Finalmente "alguém " fala da "dita" crise da forma que realmente deve ser "falada"!!!!
É sem dúvida uma oportunidade!
É isso, uma oportunidade para todos nós. De, podermos provar a nós mesmos que somos capazes da a superar usando as nossas melhores armas: Capacidade de Inventar, Improvisar e claro Comunicar!!!
O "povo" Português é perito em faze-lo e fa-lo habitualmente de uma forma fabulosa.
Podemos e estou certa que o iremos fazer. Como? Não sei bem. Sei que gosto imenso de poder participar e colaborar... Faço todos dias. Não vejo a crise, mas antes uma fase menos boa que estamos a passar...
Temos essencialmente não de copiar mas sim, "seguir" os bons exemplos mantendo sempre a orientação nos NOSSOS valores!

Bem haja!


Vera Mares, | 15/04/09 16:48
Olá professor!

Gostei muito do seu artigo. Os períodos de crise são uma oportunidade para olharmos para o nosso negócio e redesenharmos a oferta. Existem inúmeras alterações que são constantes de adiar e que, em situações como esta, é imperativo reestruturar/melhorar. É preciosa a visão, o pensar fora da caixa...



Ana Martins, | 15/04/09 22:06
Uma mensagem de esperança numa actualidade tão negra... Que os grandes gestores e políticos deste país tenham lido estas suas palavras. O que não nos mata torna-nos mais fortes!

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