O luxo bebe-se quente!
Com mais de quinze mil lojas espalhadas pelo mundo, a Starbucks veio transformar o consumo de café.Paulo Gonçalves Marcos
Nas últimas semanas a comunicação social tem-nos dado a conhecer da chegada da cadeia de cafetarias Starbucks a Portugal, relatando-nos algo sobre as origens da mesma e os planos de expansão da empresa para o mercado português. Contudo, gostaria de começar por desafiar os leitores a pensarem no significado estratégico que a Starbucks representa. Por fim, uma pequena reflexão sobre o que podemos aprender com esta empresa, com o fito de incrementar a produtividade nacional. Com mais de quinze mil lojas espalhadas pelo mundo, a Starbucks veio transformar o consumo de café, de uma mera banalidade para um luxo, cobrando dez vezes mais que os seus concorrentes locais. Vale então a pena ver como a empresa articulou três conceitos que lhe deram uma vantagem concorrencial ímpar: café excelente; instalações físicas e ambiente de consumo. Quanto ao café, inspirada na melhor tradição dos expressos italianos, procurou-a replicar e melhorar. Grãos de café comprados nas melhores regiões do planeta, funcionários (“baristas”, na melhor tradição italiana) apreciadores e conhecedores de café, utensílios e produtos para venda (moinhos, sacos em grão, canecas térmicas). Tudo a reforçar a percepção de um local onde se percebe e respira café, no melhor sentido ‘gourmet’. As instalações físicas são também singulares. Em contraponto às cafetarias tradicionais, barulhentas e fumarentas, mal iluminadas, as lojas Starbucks são o oposto: montras grandes, sofás acolhedores que convidam a sentar e a beber calmamente, algumas revistas sobre moda e estilo dispersas criteriosamente, iluminação forte. Um convite descarado a sentar à janela e ver e ser visto pelos transeuntes. Consumo conspícuo no seu melhor! Por fim, o ambiente da Loja. Uma música de fundo de tipo ‘chill out’, ausência de fumo, pessoas com bom aspecto, tudo a convidar a desfrutar de uma pausa relaxante. À azáfama diária, a Starbucks contrapõe a indulgência do tempo e do espaço. Em suma, beber um café expresso deixa de ser um acto de consumo de cinquenta cêntimos e trinta segundos e passa a ser uma experiência de 5 euros! Ou a forma de aumentar o valor de algo em dez vezes mais, num produto tendencialmente indiferenciado. Dito de outra forma, uma questão de produtividade que o marketing resolveu favoravelmente a favor da Starbucks e de seus accionistas. De facto, o problema da produtividade nacional não tem que ver apenas com a deficiente qualificação de trabalhadores, com baixos níveis de confiança social entre os portugueses, com a justiça errática e lenta, mas muito mais com a nossa incapacidade de aplicar o marketing em favor da produtividade e da inovação. Um pouco como duas regiões produtoras de vinho, com condições edafo-climáticas similares, trabalhadores e gestores experientes e qualificados. Bordéus e Ribatejo, por exemplo. Infelizmente os vinhos de Bordéus têm uma aceitação internacional (procura) e um valor de venda assaz superiores. Quem é mais produtivo? Igualmente esforçados (valor dos ‘inputs’), os produtores de Bordéus vendem maior quantidade e a maior preço que os do Ribatejo. Logo apropriam maior valor. Na equação da produtividade, Bordéus é muito mais produtiva…Afinal a mesma equação aplicada pela Starbucks nos sucessivos mercados aonde chega. Fatalidade lusa o de fiar consignado ao menor valor? Não deverá ser. Mesma a poderosa Starbucks, pioneira na percepção e na apropriação do marketing, enquanto criador de valor accionista, tem sofrido alguns reveses. No Reino Unido, por exemplo, o país aparentemente mais próximo culturalmente dos EUA, onde as marcas locais (Costa Caffe, Nero, …) adaptaram melhor o modelo norte-americano e conseguiram destronar a Starbucks do pódio. Ou melhor ainda, o que a multinacional portuguesa, Delta, está a fazer com o seu nóvel Delta Lounge, um conceito de loja susceptível de elevar o consumo de café, transformado em Portugal, numa experiência plena de significado para o consumidor. Delta Lounge ou Delta Qool, afinal duas demonstrações de que é possível inovar e capturar valor com o marketing!
www.antonuco.blogspot.com
paulo.marcos@marketinginovador.com
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Paulo Gonçalves Marcos, Economista, gestor de empresas e professor universitário
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1 comentário:
Paulo Marcos, Parabéns pelo artigo. O conceito é inovador, o marketing é agreassivo e, como tal, a procura nesta fase é enorme! Será concerteza um sucesso, se for bem gerido, como habitualmente é. Em Portugal fórmulas aproximadas do ponto de vista do ambiente do café já foram testadas com êxito: ex: cup&cino(?) e magnolia.
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