sexta-feira, agosto 29, 2008

Marca Portugal


Marca Portugal

Irá algum potencial turista ou investidor reparar nas medalhas que iremos (não) ganhar em Londres 2012?

Paulo Gonçalves Marcos

Terminou a participação portuguesa nos Jogos e julgamos útil ressalvar alguns aspectos de gestão bem como aferir do seu potencial económico. Para a China ou Cuba, regimes ditatoriais, os Jogos são uma montra de afirmação política e de determinação ideológica. Para os restantes países, os Jogos podem ser outra coisa qualquer. O caso português, contudo, é mais complexo…Uma prestação paupérrima face aos objectivos contratualizados de quatro a cinco medalhas com mais dois punhados de finalistas…Resultados obtidos estão ao nível de “grandes potências desportivas” como a República Dominicana, Trindade e Tobago, Quirquizistão…Um atleta que se declara indisponível fisicamente para participar, quase nas vésperas do arranque do certame…outra, que após uma eliminação inglória, queria entrar de férias…os árbitros, as provas madrugadoras…Enfim, uma parte dos atletas portugueses exibiu ausência de sentido de responsabilidade ou de profissionalismo. Uma liderança do contingente português entre o patético e o politicamente absurdo. Um simpático governante que fala de sorte ou de azar, como se de um Casino se tratasse…Concorrer ao mais alto nível implica conjugar mais e melhor apoio técnico, nutricionistas, fisioterapeutas de topo, acompanhamento psicológico e o uso de antigos atletas como ‘coachers’. Como fazem os EUA, a Austrália, o Reino Unido …Para evitar os desaires típicos de uma síndrome Mamede, mais de vinte anos depois…. Demitem-se os responsáveis, cobertos de vergonha? Não…A fazer fé no Diário de Notícias (27.08) aumenta-se os prémios para os atletas…A velha e improdutiva política de deitar dinheiro para cima dos problemas. É claro que uma parte dos 15 milhões gastos na preparação destes Jogos poderia ser usada de forma economicamente mais proveitosa. Na Promoção de Portugal enquanto destino turístico no Mercado Escandinavo, por exemplo. Quase 25 milhões de cidadãos de elevado poder de compra, culturalmente bastante homogéneos, privados de Invernos amenos. E aos quais Portugal pode oferecer boa gastronomia, a simpatia das gentes, a beleza da língua e a sonoridade da mesma (afinal não é apenas o italiano que é cativante!), o sossego, a paisagem, as infraestruturas turísticas. Mas os Nórdicos demandam em grandes números a Espanha, Itália, Grécia ou mesmo destinos no Extremo Oriente (reparou o leitor no número enorme de vítimas nórdicas entre as do Tsunami?). Compram residências de segunda habitação em Espanha (quase 300 000 já o fizeram). E Portugal como se posiciona nos mercados nórdicos? Pouco presente em campanhas publicitárias, as parcas aparições na televisão ou na imprensa são facilmente suplantadas em intensidade pelos outros destinos supracitados (mas também pelo Chipre ou Malta). O sucesso de alguns produtos portugueses (mormente o Vinho) ainda não é capaz de per si só provocar o efeito de arrastamento cultural que lojas e produtos espanhóis ou italianos conseguem fazer. Quatro operadores turísticos, instalados nos mercados nórdicos, dominam os programas e as rotas que são propostas aos turistas escandinavos. Numa lógica de rotatividade ao longo do mediterrâneo, em sistema de quase leilão colocando em compita os destinos. Em que uma região ou país que num ano está na “moda” é obliterado no ano seguinte, em benefício de algum outro que mais benefícios ofereceu. E por isso a nossa estupefacção com a notícia do DN. Uma parte da verba poderia ser melhor usada em mais e melhor promoção e comunicação portuguesa (também com acções locais de alto impacto mediático) na Escandinávia e na tomada de uma participação accionista nas empresas distribuidoras (operadores turísticos) locais. Afinal não é diferente do que a Inapa, Corticeira Amorim ou Tafisa/Sonae fizeram aquando do seu processo de internacionalização! Compraram ou tomaram o controlo dos canais de distribuição. De que está à espera Portugal? De algum potencial turista ou investidor reparar nas medalhas que iremos (não) ganhar em Londres 2012?


www.antonuco.blogspot.com

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Paulo Gonçalves Marcos, Economista

Comentários
Paulo Curto de Sousa (curtodesousa@gmail.com)
Para resultados desportivos de elevado nível torna-se fundamental conjugar um conjunto de factores, entre os quais o mais importante… a atitude e confiança dos atletas. E é um factor que pode ser desenvolvido e trabalhado. Aliás, algumas das soluções são referidas no artigo. Há que responsabilizar os atletas pelas suas prestações… mas principalmente pela forma como abordam e encaram a competição. E essa atitude vai determinar o nosso posicionamento. Seja no desporto, seja na economia global. Abraço.
vg
Estou de acordo que o tempo de espera das malas ,na Portela, é um assunto mais grave para o nosso turismo
Antonio Moreira
Para alcandorar a imagem de Portugal a outros planos a participação nos Jogos Olímpicos é irrelevante. São outros os produtos e serviços portugueses que podem contribuir para isso. O nosso vinho, claro, os nossos escritores e o nosso turismo. Nisto estou de acordo com o autor.
Maria Jesus Chapelle
Esta mania de deitar dinheiro para cima dos problemas assemelha-se a deitar combustível para uma fogueira. Nada resolve. Por isso de acordo.
Jorge Oliveira
Caro Paulo : "Uma liderança do contingente português entre o patético e o politicamente absurdo". Infelizmente é verdade, mas... a liderança do próprio país não sofre do mesmo? É tudo fruto da mesma árvore.
António d'Abril (ansylva@gmail.com)
Prezado Paulo G Marcos, Identifico-me com as suas preocupações e alternativas para promover a marca Portugal. Contudo, a maior prova desportiva mundial pode ser aproveitada para elevar a marca Portugal, tanto mais que este ano decorreu na China, grande potencial escoador dos produtos e serviços nacionais. As medalhas podem não alavancar a economia mas o ambiente em torno dos Jogos poderia ser uma oportunidade a não desperdiçar. Tal como na gestão desportiva, a empresarial e governamental não tem o culto da partilha de esforços (financeiros, humanos e materiais) para atingir o objectivo comum. Assim, Londres pode ser igual a Pequim ou Sidney!

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