África e português
Angola e Moçambique precisam desesperadamente de mais quadros qualificados e de maior esforço de formação nos mesmos.Paulo Gonçalves Marcos
Fizemos, recentemente, viagens a Angola e a Moçambique, mais concretamente a suas cidades capitais. A confirmação, antes de mais, de que continuam a ser cidades de beleza ímpar. Plenas de encanto e magia. A gentileza de amigos, locais e expatriados, o contacto com empresas, quadros e, amiúde, com anónimos cidadãos, deram-nos a oportunidade de partilhar com os leitores do Diário Económico a nossa percepção do que está a acontecer nestes países e como seria desejável que evoluísse o seu processo de desenvolvimento. No início de Julho, Portugal formalizou o perdão da dívida externa de Moçambique para com o nosso país, avaliada em 249 milhões de euros. Mais que o contemporizar com o passado, um voto de confiança no futuro. E na Filda 2008, a grande montra das actividades económicas de Angola, a que o primeiro-ministro português dedicou uma visita, Portugal foi distinguido com os prémios de “melhor participação estrangeira” e de “maior representação oficial”. Em Maputo e Luanda, a primeira surpresa, a de verificar que em ambas as cidades se respira uma atmosfera efervescente de ambição, de espírito empreendedor, como se o céu fora o limite da imaginação e da acção humana. Vontade de reconstruir e de investir. Empresas com produtos e serviços inovadores, ao nível do que de melhor se faz nos mercados de primeiro mundo. Especialmente verdade nas telecomunicações, nos serviços financeiros e nas bebidas. Fez-nos lembrar a atmosfera que se respirava em Portugal em meados da década de oitenta…A mesma energia criativa. Claro que o estádio de desenvolvimento de Angola e Moçambique faz com que as prioridades tenham que ser diferentes de uma sociedade europeia. No caso daqueles dois países existem muitas similitudes: recuperar infraestruturas físicas; substituir importações de produtos essenciais; qualificar recursos humanos nas áreas da gestão de empresas (e Administração Pública), ensino, engenharia, medicina. Vitais para consolidar os avanços económicos e sociais da última década e preparar ambos os países para a integração nos fluxos comerciais internacionais. Esta integração, relembre-se, foi vital para que países do Extremo Oriente saíssem de situações de pobreza e devastação pós guerra (veja-se o paralelismo com ambos os países africanos), e se alcandorassem a patamares de desenvolvimento que hoje parecem invejáveis para os padrões africanos. Indonésia (com uma guerra civil), Coreia do Sul (guerra, civil?), Tailândia, Malásia, entre outros, à laia de exemplo. Como excelente base de partida o facto de quer em Angola quer em Moçambique se encontrarem quadros qualificados, de muito boa craveira intelectual e técnica. Com formação universitária e experiência profissional de cariz internacional que os expôs a sociedades e mercados mais sofisticados. Cerca de 50.000 portugueses em Angola (a maioria qualificados) e um número inferior em Moçambique (metade?), a que se juntam um contingente significativo de quadros locais que regressaram aos seus países de origem (frequentemente com carreiras de dez ou mais anos em Portugal). Mas aqui parece estar o principal constrangimento. Ambos os países precisam, desesperadamente, de mais quadros qualificados e de maior esforço de formação nos mesmos (sem surpresa, o Brasil financiou a construção de uma academia de formação para quadros superiores da Administração Pública Angolana…). Por isso a presença do primeiro-ministro português na Filda 2008 ou mesmo a intenção de reforçar o contingente de professores portugueses (nos ensinos básicos e secundário) são relevantes, mas quiçá insuficientes do ponto de vista estratégico. Uma política de concessão de vistos de trabalho e de turismo, mais expedita e menos burocrática, para nacionais lusos ou africanos; coadjuvada por uma política de bolsas de estudo no ensino superior português a jovens africanos de elevado potencial; e complementada com uma aposta na formação de executivos e quadros da Administração Pública parecem-nos vitais para assegurar a manutenção de elevadas taxas de crescimento em Angola e Moçambique e relações comerciais intensas entre estes países e Portugal. De facto, se não o fizermos quanto antes, a aposentação e eventual falecimento de elites portuguesas e africanas que estudaram juntas na então metrópole, ditarão a perda de influência económica portuguesa, com resultados potencialmente nefastos para os três países.
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