terça-feira, maio 06, 2008

Sinal do tempo?





Sinal do tempo?

Despedir um CEO pode custar mais que o pacote de indemnização que lhe possa ser atribuído, se não for feito com a celeridade adequada.

Paulo Gonçalves Marcos

Os últimos meses têm sido pródigos em notícias e artigos sobre directores-gerais, administradores delegados, presidentes directores gerais ou CEO despedidos. E este jornal tem dado o devido destaque a estes casos. Por vezes, em jornais menos sérios, o relevo tem sido dado aos aspectos folclóricos associados ao ‘severance pay’ ou, em linguagem panfletária, aos milhões que as empresas pagam para se verem livres do seu dirigente executivo máximo. Merril Lynch e UBS, dois dos mais célebres bancos do mundo, são apenas alguns dos mais recentes e notórios exemplos de CEO destituídos. Imprudência na gestão de riscos, má avaliação das perdas potenciais derivadas do ‘subprime’ e a incapacidade de implementarem e controlarem efectivos sistemas de ‘compliance’, estão na base dos prejuízos de magnitude histórica que ambos os bancos revelaram e que levou ao despedimento dos seus executivos de topo. Saber despedir um CEO é uma das principais atribuições de um órgão de administração/alta direcção. Contudo, como amiúde o CEO é escolhido pelo mesmo órgão de administração a quem incumbe o seu despedimento, os seus membros passam por um processo por etapas: negação do problema (foi azar; a culpa é do mercado); embaraço (por terem escolhido aquele que agora querem despedir) e, por fim, como dar as más notícias permitindo ao CEO salvar a face e à empresa e seus colaboradores minimizarem as distracções. Ou seja, despedir um CEO pode custar muito mais que o mero pacote de indemnização que lhe possa ser atribuído, se não for feito com a celeridade adequada. Sem tergiversações. E importa estabelecer as políticas e os procedimentos para evitar a repetição da ocorrência no futuro. Muitos despedimentos, desta vaga recente, teriam sido evitados se a preocupação aquando da escolha tivesse sido maior. A principal preocupação do órgão de gestão, antes de recrutar e seleccionar um novo CEO, deverá ser a de estabelecer os atributos de “interacção com outro” e “afinidade cultural” entre o candidato a CEO e a organização que se propõe gerir. Isto porque a incapacidade de ouvir os outros, mesmo aqueles com opiniões contrárias às suas, é um atributo frequentemente ignorado pelos CEO com desempenho medíocre. Tendem a rodear-se de amigos, incapazes de transmitirem as más notícias. E a fazerem gestões autistas, destruidoras de valor. Um CEO sem visão estratégica, incapaz de ouvir os outros e de pensar a organização para além do curto prazo, é capaz de condenar uma instituição à derrocada. Seja um banco ou um clube de futebol…Os casos recentes de dois clubes empresas de um pequeno país europeu são emblemáticos da demissão dos dirigentes (directores do clube e administradores da sociedade anónima desportiva) em exercerem em pleno a sua capacidade e autoridade de demitir o presidente (o CEO!). Num caso, o clube e a sua SAD, apesar de terem conseguido ser campeões há um lustro atrás, feito inédito e não mais repetido, endividou-se para além da sua capacidade de fazer face aos encargos da dívida: o resultado previsível? O desaparecimento… que os investidores milagrosos surgidos do nada só tornam mais evidente e inexorável… Noutro, mais histórico e de uma cidade mais a sul, com um palmarés mais valioso, o passivo triplicou; construiu-se um estádio demasiado grande (quase sempre com casa a metade), venderam-se os melhores jogadores, despediram-se treinadores, e depois de alguma euforia populista em torno da angariação de novos associados (o ‘kit’, essa famosa panaceia…), a realidade do futuro próximo vai ditar uma fuga para a frente, com um CEO obstinado em permanecer no lugar e em tudo querer decidir sozinho (apesar de nomear um director desportivo, sem experiência nem preparação técnica…), rumo imparável a uma “belenização”. Está na hora de os directores eleitos e os administradores assumirem as suas responsabilidades…Chega de negação da evidência…Se a UBS e a Merril Lynch conseguiram…

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Paulo Gonçalves Marcos, Economista

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