sexta-feira, maio 23, 2008

Gestores Desportistas


Gestores desportistas

Correr tem pouco a ver com a participação em provas oficiais e tudo a ver com o treino, sistemático e consistente.

Paulo Gonçalves Marcos

Um estudo, cujas conclusões foram recentemente publicadas na imprensa generalista, dava conta que quinze por cento da população portuguesa declarava frequentar, com algum grau de regularidade, um ginásio ou instalações desportivas equivalentes. A minha própria experiência, e algum senso comum, fez-me desconfiar da qualidade das respostas e da presença da síndrome do socialmente correcto, em que os entrevistados responderam aquilo que achavam que ficaria bem dizer e não tanto aquilo que efectivamente fazem. De qualquer forma, é inegável que fazer desporto está na moda. Mérito de muitas agremiações desportivas de cariz popular, primeiro, e da expansão de ginásios modernos, confortáveis e dotados de pessoal licenciado (que fornece acompanhamento metodológico e estímulo aos clientes/praticantes), depois. Mérito também de Carlos Moia, incansável promotor de excelentes iniciativas (meias e mini maratonas sobre as pontes do Tejo em Lisboa), autênticos acontecimentos mediáticos, com benefícios para a saúde dos portugueses e das marcas que o patrocinam. Numa época em que os consumidores se preocupam com a sustentabilidade e a consciência social das marcas, não deixa de ser curiosa a consistência e a inteligência com que algumas apostam naquelas provas, cujo impacto em muito transcende a cidade de Lisboa e o país (atente-se na quantidade de atletas amadores oriundos de Espanha e do Brasil, nomeadamente). Comecei a correr há cerca de dois anos. De forma regular, quotidianamente, dia após dia, num moderno ginásio. A primeira surpresa, a de encontrar uma série de amigos e conhecidos com quem me tinha cruzado havia mais de uma década. Quadros superiores e profissionais liberais. Irreconhecíveis, todos eles. Às notórias adiposidades abdominais de estudante universitário ou jovem quadro, tinha-se sucedido uma compleição física trabalhada. Afinal, todos eles corriam em distâncias de fundo ou meio fundo. Confesso que a ideia me desagradava sobremaneira…correr sem objectivo…esforço desmedido…algo grotesco…Comum a todos, as exigências de profissões extremamente concorrenciais, onde elevados níveis de ‘stress’ e adrenalina são constantes. Grupos profissionais onde os casos de ‘burnout’ psíquico e físico são assaz típicos. Qual praga das ‘cities’ do mundo ocidental. Mas nos meus colegas de manhãs madrugadoras, o cenário era tudo menos típico. E o ‘burnout’ é uma realidade distante, quase que uma curiosidade científica…Depois veio o desafio de me juntar, de experimentar. De sentir os benefícios aeróbicos e anaeróbicos do treino de atletismo. De participar nas mini maratonas, provas várias. Comecei com bastante cepticismo… passaram dois anos e do meio fundo estou a progredir para as provas de fundo. E aprendi quão útil pode ser uma prática sistemática, mas não de alta competição, do atletismo de meio fundo e fundo. Um conjunto de ideias que retive e que gostaria de partilhar com os leitores desta coluna. Correr tem pouco a ver com a participação em provas oficiais e tudo a ver com o treino, sistemático e consistente. Os corredores tendem a ser pessoas com sucesso profissional (quiçá seja uma distorção de percepção da minha parte). Sabem que a sua força de vontade (para arrostar com o cansaço, o frio e o calor, a preguiça,…) é aquilo que os distingue dos outros. Percebem como ninguém o valor de gerir o tempo e as prioridades (de outra forma não existirá programa de treino capaz de resistir às solicitações modernas). E têm uma noção muito premente de como o planeamento (do treino, das cargas de esforço, da táctica de cada corrida) é importante para o seu sucesso profissional, desportivo e pessoal. Por fim, os gestores desportistas aprendem, rapidamente, que meses e meses de preparação aturada, de esforço e dedicação, são necessários para um único dia bem sucedido (aquele em que acabam a prova e preferencialmente com bom tempo). Em síntese, agora que Mourinho e Morais pretendem ensinar os gestores, estes já os tinham adoptado há algum tempo…Silenciosamente, madrugada fora!

www.antonuco.blogspot.com
paulo.marcos@marketinginovador.com
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Paulo Gonçalves Marcos, Economista

Comentários
João Gonçalves
As empresas deveriam atentar neste artigo. As despesas de representação seriam mais saudavelmente substituídas por programas de ginásio. Previnem o stress, melhoram o ambiente de trabalho...e poupam nos encargos com a saúde.
Paulo Curto de Sousa (curtodesousa@gmail.com)
Correr (desportivamente falando) tem muito a haver com persistência. Para se ser persistente temos de ter uma atitude adequada, positiva. E o sucesso apenas se alcança com muita persistência e esforço continuado. Nada tem a haver com competir com adversários. O único adversário é a marca que eu quero ultrapassar. E quem é bem sucedido sabe a importância desta atitude para atingir cada vez melhores resultados. Boas corridas... e melhores recuperações.
vg
"Mens sana in corpore sano",já era o lema dos "gestores" romanos.Entre grandes pândegas,claro..
J Ralha (jralha59@gmail.com)
Sou economista e corredor de pelotão. Para mim, existem objectivos quantificados como fazer melhor tempo em cada prova do que fiz no ano anterior e outros como sentir-me bem fisicamente, ser capaz de me esforçar, de testar a minha capacidade de sofrimento, embora por vezes a vontade não seja muita. Além disso, em cada treino e em cada corrida há um bem-estar físico subsequente à actividade que é como uma espécie de vício ao qual nos habituamos e já não conseguimos dispensar.
NapoLeão
"Profissões extremamente concorrenciais"??? O camarada comendador escreve como político em fase de arranque de campanha. Mas acredita mesmo em profissões ...concorrenciais ? E quem é que pode pagar pipas de massa nos ginásios ? Só algumas lolitas "famosas" para um leasing amoroso nas próximas férias by leasing !

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