sexta-feira, dezembro 07, 2007

A emergência das redes sociais

A emergência das redes sociais

Causa estranheza, que em Portugal, o anúncio do Google OpenSocial Project tenha passado à margem dos decisores políticos e empresariais.

Paulo Gonçalves Marcos

O livro de Robert Putnam, “Bowling Alone”, de 1995, veio relembrar às sociedades ocidentais, na esteira do que outros pensadores tinham tentado articular desde meados da década de sessenta, que as redes sociais tinham um valor económico intrínseco, podendo ser fortes potenciadoras da produtividade individual e colectiva. Tal como o capital físico (máquinas, computadores, …) ou humano (educação, treino,...) as redes sociais têm um valor relevante. Putnam e os seus seguidores colocaram grande ênfase no processo de destruição da confiança, pedra basilar para que as redes sociais possam servir de multiplicadores de eficiência económica e social. E nas medidas políticas, necessárias para inverter aquilo que percepcionavam com um lento, mas inexorável declínio das instituições geradoras de confiança e promotoras de Capital e Redes Sociais: a família nuclear, as igrejas, as forças armadas e as comunidades de vizinhos. A televisão seria a grande causa deste mal, desta destruição de capital social que no limite implicaria elevados fardos económicos. Na década que se seguiu, numerosos estudos e publicações desenvolveram a tese de Putnam, sem a contradizerem, antes a reforçando e ampliando. Mas a este declínio das instituições no mundo físico começou a contrapor-se, desde 2004, a emergência das novíssimas redes sociais. Umas mais destinadas a comunidades adolescentes ou jovens adultos (Hi5, Orkut, MySpace, Bebo, Friendster, Ning), outras a estudantes universitários e jovens quadros (Facebook, SixApart), algumas outras a profissionais e quadros (Linkedin, Pulse Plaxo, Reuters).

A expansão e proliferação frenética destas redes sociais virtuais colocaram os seus utilizadores (quase 200 milhões, só no mundo ocidental) perante a dificuldade de se manterem ligados a todas. Paradoxalmente, tal como Putnam tinha demonstrado, o valor das redes sociais será tanto maior quanto mais densas forem e quanto mais ligações os seus membros tiverem entre si. Como dissemos em artigo anterior nesta coluna, o mercado da publicidade na ‘Web’ está a disparar e dentro desta categoria emerge de forma esmagadora a publicidade nas redes sociais. A manterem-se as tendências, dentro de 5 anos as redes sociais poderão captar a maior fatia do bolo publicitário. A possibilidade de publicidade baseada nas características das audiências, nos seus gostos e preferências, qual pedra filosofal sempre demandada pelos ‘marketeers’, é agora uma realidade! Bancos, seguradoras, marcas de grande consumo, partidos e candidatos políticos, deverão estar muito atentos a este fenómeno.

É dentro deste enquadramento estratégico que causa estranheza, que em Portugal, o anúncio do Google OpenSocial Project tenha passado largamente à margem dos decisores políticos e empresariais. Baseado em padrões de programação abertos, permitirá aos programadores desenharem aplicações (’widgets’) que enriquecem a experiência e a utilidade de navegação nas redes sociais, e que possibilitarão a portabilidade das configurações do membro/utilizador (seu perfil, suas preferências, suas redes de amigos, …) entre diversas redes sociais. Tornando estas sempre presentes em qualquer acto de navegação na ‘net’. E sem a necessidade de completar e manter múltiplos registos em outras tantas redes sociais. Ou seja, para além de permitir que o “motor de busca” da Google se infiltre nas redes sociais e apreenda tudo aquilo que é dito e feito pelos utilizadores, a plataforma de portabilidade, agora anunciada, vem permitir que as redes sociais sejam o local de entrada e de permanência por excelência na ‘Web’, destronando e obliterando outros ‘sites’… Incrementando o valor económico e financeiro quer das redes quer dos seus membros, em detrimento provável de outros operadores...

paulo.marcos@marketinginovador.com

Comentários
Maria Jesus Chapelle
Uma questão interessante será a de saber qual o futuro dos serviços portugueses que procuram concorrer com estes gigantes internacionais. Mormente o Sapo.
Paulo Curto de Sousa (curtodesousa@gmail.com)
Todo este processo permitirá uma melhor informação para o consumidor? Supostamente sim… ao receber publicidade direccionada e ajustada ao seu perfil, o consumidor estará menos exposto a informação desinteressante e que não lhe interessa. E quem publicita terá, provavelmente, um retorno financeiro das suas mensagens comerciais muito maior por via deste direccionamento. Chegaremos ao ponto da mensagem publicitária feita à medida de cada consumidor?...
JMG
Artigo bem escrito. Penso que retrata bem a evolução recente da experiência da internet e a afirmação de algumas aplicações como plataformas essenciais. Ou seja, qual a importância relativa da Google quando comparada com o Sistema Nacional de Saúde? Assistiremos, nos próximos anos a dois fenómenos: 1) Deslocalização e privatização das redes de convergência social e, consequentemente económica; e 2) Aparecimento de necessidades e, consequentemente, negócios pensados e desenhados num "papel milimétrico" com fronteiras que não as políticas/sectoriais e onde conceitos como cadeia de valor, sector industrial, fornecedores e clientes (habitantes de um ecossistema antigo - Porteriano) deixarão de ser os "eixos" deste novo referencial. A nova economia será, em minha análise, mais volátil e mais rápida. Ficaremos, no entanto, à espera da resolução de alguns problemas energéticos e ambientais ao nível do globo.



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