A República bolivariana da Europa e o supervisor
Uma ideia singular: a publicidade, tal como a liberdade de imprensa, é nefasta para os consumidores…Paulo Gonçalves Marcos
Escrevemos hoje sobre um pequeno país, ficcionado, de forma rectangular, banhado pelo Oceano. Imagine o caro leitor que um dos seus supervisores, se habituou a uma vida complacente, típica de organizações sem concorrência: altas remunerações para os seus gestores, pouca ou nenhuma efectividade no trabalho que deveria desempenhar: o de supervisor! Neste país, um grande banco iludiu os reguladores, anos a fio, com práticas pouco menos que recomendáveis: empréstimos ao filho do presidente executivo, com perdão de juros; empréstimos a sociedades ‘offshore’ que usavam os fundos mutuados para subscreverem aumentos de capital no banco; entre outras tropelias. Noutro banco, mais pequeno, a mistura entre política e negócios era célebre, com negócios opacos em série, activos “extravagantes” em vez de crédito ou depósitos. Esperaria o leitor que um supervisor que não supervisione fosse reformulado por inteiro, incluindo a sua equipa de alta direcção. Que práticas e procedimentos fossem revistos de forma criteriosa. Ao invés, o supervisor sujeita a consulta pública um “Aviso” em que pretende regular a publicidade dos bancos do país em causa! Qual panaceia dos males que o afligiam…Aqui chegados bem nos lembramos de como regimes e sistemas políticos, não concorrenciais, actuam no sentido de limitar a liberdade de expressão ou de opinião na vida cívica e política. E como na esfera empresarial apertam a malha sobre a comunicação empresarial, a publicidade e demais formas de contacto entre as empresas e seus potenciais ou actuais clientes. O mesmo raciocínio bafiento que o “consumidor” (ou o “povo”) não tem capacidade de discernimento suficiente. Claro que na esteira do grande paladino actual da “democracia”, também aqui o método é de estilo “bolivariano revolucionário”. Uma ideia singular: a publicidade, tal como a liberdade de imprensa, é nefasta para os consumidores…que têm que ser protegidos a todo o transe. Claro que todos os estudos académicos que provam que a publicidade aumenta o nível concorrencial e faz baixar os preços foram ignorados…Em sentido literal, o “Aviso” em consulta pública levará, se não for modificado, a que os ‘disclaimers’ e ‘disclosures’, da comunicação das instituições financeiras, sejam de tal maneira extensos e de relevada importância que a publicidade radiofónica, televisiva ou na imprensa, seja inviável do ponto de vista de inserção de conteúdos informativos. A mera menção a uma taxa de juro obrigará a citar o período de aplicação, se é de cariz temporário ou permanente, qual a taxa anual efectiva global… A consequência será a de que o Sector Financeiro irá ter mais dificuldade no seu papel formativo (sim, a publicidade informa e forma, tanto mais quanto mais intensa for a concorrência). E então teremos que também os bancos ver-se-ão restritos a seguir a esteira das telecomunicações ou dos brinquedos: cariz lúdico, humor, “felinos” em catadupa…E para completar o ramalhete, o digníssimo supervisor atribui igual “gravidade” às campanhas de incentivo à poupança que ao crédito. Ambas sujeitas aos mesmos requisitos de “sanidade”. Afinal nada de mais natural num país com uma das mais altas taxas de endividamento da Europa, com uma taxa de poupanças baixa, onde o crédito mal parado está a crescer a 30% ao ano…E, paradoxalmente, onde os operadores telefónicos e internet, localizados ‘offshore’ (afinal o mesmo paradigma das casas de apostas desportivas…) fazem impunemente campanhas de crédito de adesão instantânea, sem comprovativos de rendimentos ou bens…Um ‘subprime’ de crédito ao consumo em potência….Para acabar, o mesmo supervisor tem a peregrina ideia de pretender substituir a imprensa livre e as associações de defesa dos consumidores, através da publicação de preçários e de comparações entre produtos. Um caso clássico em que a má moeda (supervisor inapto) expulsa a boa (imprensa livre e associações de consumidores)? Como é fácil de perceber, esta “estória” é uma ficção…
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Paulo Gonçalves Marcos, Economista ‘marketeer’ e professor universitário
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1 comentário:
Viva Paulo,
Excelente artigo!
Ouvi dizer que uma das causas, mas não a principal, da crise financeira actual nos EUA, se deve ao facto de os funcionários não estarem ao corrente de todos os novos produtos financeiros, cada vez mais complexos, difíceis de entender, até pelos próprios funcionários, que os vendiam aos clientes.
Não será essa uma das razões das tantas tropelias existentes na banca portuguesa que descreves na primeira parte do teu artigo? Just kidding :-)
Em relação à medida do supervisor de criar o “Aviso”, em que pretende regular a publicidade dos bancos, para resolver essas tropelias... bem, sem comentários!
Mas dado que esse "Aviso” em que pretende regular a publicidade dos bancos, para além do que escreveste no teu artigo, deixo aqui mais umas perguntas:
- Em que medida essa nova regulação vai aumentar a taxa de clientes promotores e/ou detractores desses mesmos bancos?
- - Saberá a banca responder à pergunta que encontram em http://crescimentoempresas.blogspot.com/2008/09/psst-os-seus-clientes-adoram-no-ou.html
Muito Obrigada, e podem contar comigo no que eu lhes puder ser útil,
Maria Spínola
http://www.crescimentoempresas.com
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