quinta-feira, abril 03, 2008

É a Política, meus caros!


É a política, meus caros!

O êxito de Sócrates, deriva do estabelecimento de uma relação forte com os eleitores e da utilização criteriosa, dos atributos das marcas de sucesso.

Paulo Gonçalves Marcos

É chegada a Primavera e para além das aves migrantes abriu igualmente a temporada dos anúncios mediáticos, de forte cariz político e eivados de “eleitoralismo” (no sentido corrente e pejorativo do termo). Projectos de investimento de interesse estratégico (pena que tantos pareçam ser meros projectos imobiliários, disfarçados de projecto turístico) a rodos. Onde não faltam as novas auto-estradas, traçados de comboios de alta velocidade e afins, num cartaz que começa agora a ser desvendado. Numa curiosa analogia com os festivais musicais de Verão que, para manter o interesse, desde a Primavera, vão revelando a “conta-gotas” os artistas do seu cartel… E, qual cereja em cima do bolo, o anúncio da redução do IVA. Esta baixa é simbólica do ponto de vista económico e político, mas quase irrelevante… Porque significa que a situação de urgência nas contas públicas já não o é tanto, conquanto ainda não esteja resolvida em definitivo. Mas que é feito singular ter sido alcançado em democracia, pois só fora atingido em tempos de regimes autoritários…

É também um sinal para os agentes económicos, como que a significar que os piores momentos já são idos… Para muitos o anúncio da redução do IVA não é mais que uma mera peça da propaganda política, arte em que o nosso governo seria exímio. Para nós, contudo, é uma peça basilar dos valores da marca do primeiro-ministro. Bastante mais profunda e importante que a mera propaganda. Passemos a explicar. O estado de graça do primeiro-ministro não pode ser atribuído à campanha permanente, verdadeiro símbolo de um modo de fazer política de que Clinton e Blair terão sido os expoentes mais acutilantes. Segundo alguns, Sócrates (e Pereira da Silva) seriam discípulos atentos dos mestres da “Terceira Via”, reproduzindo tácticas, ensaiadas uns anos antes, do mundo anglo-saxónico. Seria este estado de campanha permanente, com uma ocupação esmagadora do espaço mediático (que o relatório da ERC sobre o espaço dedicado ao PSD ‘versus’ aquele que é conferido ao Governo e ao partido que o apoia, seria apenas a confirmação do facto), que explicaria as elevadas taxas de aprovação do primeiro- ministro e do governo, por um lado, e as elevadas taxas de impopularidade do partido principal da oposição, por outro. As medidas anunciadas seriam, apenas, mais um conjunto desta estratégia. Nada de mais errado. É colocar uma capacidade nos ‘mass media’ que eles não têm (veja-se, a este propósito, “May the weak force be with you: the power of mass media in modern politics”, do professor Kenneth Newton, da Universidade de Southampton).

O sucesso de Blair, Clinton, Zapatero ou mesmo Sócrates, deriva do estabelecimento de uma relação forte com os eleitores e da utilização, inteligente e criteriosa, dos atributos das marcas de sucesso. Simplicidade, credibilidade, valores éticos, unicidade de mensagem e aspiração elevada. Pombal, Fontes Pereira de Melo, Saldanha, Afonso Costa, Salazar, Sá Carneiro ou Cavaco, antes. Sócrates, agora. Todos emanados de uma ambição política que norteia a sua actividade, mobiliza os fiéis e marca o quadro de referência da acção política (e obriga a oposição a jogar no “terreno” do líder do Governo). E conquanto os eleitores possam ter duvidado da capacidade de alguns dos políticos referenciados em corporizarem valores e cumprirem promessas, todos eles (desde os portugueses de antanho aos socialistas de “terceira vaga”) desenvolveram e comunicaram, incessantemente, mensagens simples e apelando às aspirações dos eleitores (a afirmação do Estado, de Pombal; o desenvolvimento de Fontes ou Cavaco; o combate ao défice e a salvação de um modelo de Estado, de Costa ou Sócrates, …). Portanto, a Primavera não trouxe meros anúncios desprovidos de verdadeiro significado económico (como os PIN sempre anunciados mas nunca concretizados ou a redução do IVA em um ponto percentual), mas veio demonstrar que é também uma excelente estação do ano (tal como o Verão, o Outono e o Inverno…) para que a marca Sócrates se continue a projectar no imaginário dos portugueses… Pobres dos líderes da oposição, aprisionados por tamanho jogo estratégico…também chamado de marketing político!

www.antonuco.blogspot.com
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Paulo Gonçalves Marcos, Economista

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