Tivemos a oportunidade de participar, na primeira quinzena do mês de Julho, no 2º Seminário Internacional da Uniapac/Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE) subordinado ao tema da Ética Empresarial. O «Campus» da Universidade de Louven (Louvaina), desde tempos medievos sítio do saber dos «Países Baixos», proporcionou o ambiente intelectual propício para o debate entre gestores experientes, académicos reputados e jovens quadros de grandes empresas europeias.
As empresas europeias têm sido confrontadas com um aumento de consciência social dos cidadãos e dos investidores nos mercados de capitais. As organizações não governamentais (ONG´s, com o “Sierra Club”, “Greenpeace”, entre as mais notórias), com áreas de interesse desde a protecção ambiental, passando pela defesa dos consumidores até à preservação de espécies animais, têm ganho protagonismo crescente nos países da OCDE. Em simultâneo, têm proliferado e ganho crescente aceitação, por parte dos pequenos investidores, os fundos de investimento com preocupações éticas ou ecológicas. Recusando-se a investir em empresas sem um claro “Código Ético de Conduta” e em negócios de reduzida responsabilidade social, fundos e ONG´s têm lançado para a ribalta, pelos piores motivos, as empresas operantes em indústrias como o tabaco, o petróleo ou o armamento. Mas até agora insuspeitas empresas de calçado ou vestuário, para citar apenas alguns dos casos mais recentes, têm sido acusadas de uma política pouco criteriosa de subcontratação (com os seus fornecedores a empregarem trabalho infantil no Sudoeste Asiático).
A emergência da geração Bobos[1] (“bohemians and burgeois”) à liderança social, económica e política, um pouco por toda a Europa Ocidental, só vai reforçar a vaga de fundo que exige maior sentido ético na condução dos negócios.
Contrariando a ortodoxia que vai proliferando nas teorias da Gestão, foi consensual entre os participantes que a Europa Ocidental e os Estados Unidos da América do Norte devem exibir diferentes concepções de ética empresarial. Apesar de um tronco comum civilizacional, as diferentes experiências históricas, sociais, políticas e religiosas da Europa Continental levam a que os participantes do Seminário tenham concluído que três escolas, igualmente legítimas, devem afirmar-se autonomamente no campo da Ética Empresarial: a Anglo-saxónica (Eua, Reino Unido), a Europeia continental protestante (alemã, Escandinava), e uma de cariz mais católico (Europa do Sul). As prescrições morais de uma escola se aplicadas em contextos, geográficos e humanos, que lhe são alienígenas produzem um efeito de mal disfarçada repulsa social.[2]
Um outro mito alvo de cuidada análise foi o do menor desempenho empresarial (redução de lucros) motivada pela adopção de uma «praxis» ética nos negócios. Embora a investigação empírica ainda esteja na sua infância, sendo prematuro estabelecer relações científicas de causalidade, os primeiros resultados parecem convergir no sentido de que existe uma correlação positiva entre rendibilidade empresarial (“return on equity”) e prática Ética na actividade empresarial!
Chegados a este ponto, qual grito de “Ipiranga” que deve nortear os empresários e os gestores de matriz cristã, importa percepcionar o rumo para as empresas portuguesas. Aqui, estamos crentes, a prática dos gestores portugueses, fortemente influenciada pela tradição católica, tradicionalista e amiúde paternalista, é essencialmente ética. Mas a maior lacuna radica na ausência de uma tradição de corporizar essa prática, consuetudinária, sob a forma de um “Código, escrito, de Conduta Ética”, explicitando e comunicando activamente quais são os comportamentos aceitáveis e reprováveis em campos como: as relações com os fornecedores, compromissos para com os empregados, transparência para com accionistas ou clientes ou ainda a forma como a empresa(s) vai contribuir para ajudar a comunidade envolvente. Por vezes isto requer um “Ethical Business Manager” definido na organização. Procurando que as maiores empresas portuguesas, uma vez consumada a fusão da Bolsa de Valores de Lisboa e Porto com a Euronext, não venham a ser ostracizadas pelos investidores institucionais operando em mercados de capitais onde estas questões já quase se tornaram corriqueiras...
Paulo Gonçalves Marcos
Texto publicado na newsletter da ACEGE em Julho de 2001
[1] David Brooks, in “Bobos in Paradise”.
[2] Como aconteceu com a francesa Danone, no final da Primavera de 2001. Pretendendo aplicar, na França, a receita norte-americana de despedimentos em massa como forma de aumentar os lucros, reduzindo os custos. Algo mal compreendido pela opinião pública francesa, quando confrontada, com os ainda assim elevados lucros da companhia.
Lutamos por uma banca saudável e solidária. Lideramos o melhor sistema de saúde em Portugal. Gostamos de coisas boas e com estilo. De produtos e serviços únicos. De pessoas com convicções e de uma boa conversa. De vinhos bons, que não têm que ser caros. Gostamos do ar livre, do mar e do sol. Do design e boa arquitectura. Achamos que a Economia, Política e a Fé (seja lá o que isso for) fazem o mundo girar. Adoramos o Benfica. Amamos os nossos filhos.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário