Buscando no baú das memórias encontrei este texto meu publicado n jornal “O Interior” em Julho de 2001. Parecia premonitório das dificuldades que o alargamento da União Europeia nos iria causar...
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Búlgaros e Portugueses
Estivemos na Bulgária na semana precedente às eleições legislativas. Como sabemos, a coligação partidária apoiado pelo antigo rei ganhou-as de forma esmagadora. Sem surpresa, aliás, a julgar pelo carinho com que o povo falava de Simeão e pela profusão de cartazes com a fotografia do monarca.
Para além da curiosidade, histórica e política, de um soberano deposto ganhar umas eleições republicanas, a Bulgária, enquanto país candidato à União Europeia, encerra alguns ensinamentos para os portugueses.
Primeiro, a vontade popular de integração na União, como forma de ancorar a democracia e beneficiar de ajudas ao desenvolvimento económico. Sem surpresa, uma parte destas ajudas serão desviadas de Portugal...
Segundo, e na esfera da mão-de-obra. Em geral, os trabalhadores búlgaros possuem doze anos de escolaridade, denotam boa ética de trabalho (vontade de trabalhar, baixo nível de absentismo) e estão disposto a vender o seu trabalho por salários três a quatro vezes mais baixos que os portugueses. E este padrão búlgaro é facilmente detectado na Roménia, Polónia, Lituânia...
Na viagem de regresso para Lisboa, via Milão, conhecemos um alto executivo de uma famosa marca norte-americana de “vestuário descontraído”. Como responsável de produção, procurava descobrir fábricas e empresas búlgaras a quem contratar a produção de camisas. Que por enquanto ainda são produzidas em Portugal...
Os cidadãos búlgaros são mais qualificados e baratos que os portugueses, possuem superior vontade de progredir e de recuperar vinte e cinco anos de atraso. Será que há esperança, para Portugal, na guerra económica que se avizinha assim que os países da ex-cortina de ferro entrarem na União Europeia?
Julgamos que sim. Os países de Leste apesar de assentarem em mão de obra mais barata e qualificada, não possuem capacidades de Gestão de Empresas ou infraestruturas viárias e de telecomunicações como as portuguesas. São mais corruptos. O Marketing, enquanto disciplina que acrescenta valor, é largamente desconhecido. Mas estas vantagens só serão duradouras se cultivarmos uma cultura de maior exigência e qualidade, enquanto cidadãos, consumidores, trabalhadores ou empresários. Sem um aumento continuado da nossa produtividade, seremos remetidos para o “caixote do lixo” da História dos países subdesenvolvidos.
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