A visão que veio do Atlântico
A visão do futuro que se pretende para o arquipélago é verdadeiramente a notícia relevante que veio dos Açores.Paulo Gonçalves Marcos
Eleições regionais nos Açores, a vitória expectável do PS, com as surpresas do crescimento do CDS e do BE. A perda de votos foi mais que compensada com a dimensão simbólica da vitória em todas as ilhas. Vitória aguardada, e deixada antever nas diferenças de adesão popular conseguidas, na mobilização de antigos quadros do PSD local ou mesmo nos meios comunicacionais desenvolvidos. Acima de tudo o PS Açores soube desenvolver uma máquina eficiente em capturar apoios europeus, para além das transferências do Orçamento Geral do Estado ou das capacidades endógenas de obtenção de receitas fiscais. Mas a conjuntura dos Fundos Europeus, favorável que possa ter sido, não oblitera o mérito de ter a capacidade técnica de os solicitar, preparando para o efeito as complexas candidaturas. Antes de tudo, contudo, a visão do futuro que se pretendia para o arquipélago. E esta é verdadeiramente a notícia relevante que veio dos Açores. Não o resultado de umas eleições mas uma visão traçada em meados da década pretérita, tendo como linha estratégica a transformação de uma economia regional assente no sector primário para uma outra capaz de coexistir com este mas potenciadora dos atributos comparativos dos Açores, via Turismo: paisagem e beleza cénica, mar, ruralidade, clima ameno… Atributos não únicos tomados isolados, mas capazes de serem ímpares se conjugados. Uma economia nova para o século vinte e um, assente num sector não poluente, capaz de estimular a qualificação dos recursos humanos e a sofisticação das técnicas de gestão dos grupos empresariais. Começando pelo desenvolvimento do transporte aéreo, como forma de quebrar o ciclo vicioso: de falta de massa crítica, baixas rendibilidades, incapacidade de atrair capitais com que o sector do transporte aéreo regional se vinha defrontado. Ou, na gíria económica, introduzindo investimento do governo regional como forma de trazer “externalidades” positivas ao sector do Turismo nos Açores. Aproximando estes dos principais mercados emissores. Como resultado, a oferta e a procura dirigidas ao Turismo dos Açores a crescerem a taxas compósitas de dois dígitos, ao longo de mais de uma década. Um crescimento de mais de 200% no volume de negócios ou no emprego turístico da Região. Complexos turísticos integrados, hotéis modernos, empresas de animação e guias turísticos, desenvolveram-se de forma exponencial. Mas também a restauração, os centros interpretativos (forma moderna de fazer pequenos museus que são experiências vivas e interactivas), portos e náutica de recreio beneficiaram de forma exponencial. O Turismo dos Açores tem sido capaz de captar da atenção dos turistas continentais portugueses (e a sagacidade de usar o ‘product placement’ nas telenovelas da TVI a isso ajudou decisivamente) e nórdicos (com o trabalho feito pela Região e pelos empresários locais nos agentes e operadores da Escandinávia). E, caso ímpar no panorama nacional, o Turismo é já o segundo principal sector da Economia Regional (mas caminhando a passos largos para ser o mais proeminente). Mas os Açores fizeram mais que um boa visão e execução. Reconheceram, recentemente, que o paradigma do turista estava a mudar: contemplativo e tradicional, estagnado e em potencial declínio; haveria que desenvolver uma nova estratégia para servir os segmentos afluentes emergentes. Para o efeito, a aposta na captura de novos nichos de mercado, desenvolvendo as indústrias relacionadas e de suporte locais, especializando a oferta, desenvolvendo as capacidades de Gestão, de sistematização de Informação (com o Observatório Regional do Turismo) e de integração da Oferta (via Associação de Turismo dos Açores). E para além de Carlos César, existe um outro responsável pela visão e irrepreensível execução estratégica para o Turismo dos Açores: Duarte Ponte, secretário Regional da Economia. Os baixos níveis de desemprego, a actividade económica dinâmica do sector privado e o reforço das estruturas públicas, têm a marca do secretário Regional. Ou seja, se os eleitores também votam com a carteira, o PS Açores deve muito da vitória à sua economia!
www.antonuco.blogspot.com
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Paulo Gonçalves Marcos, Economista
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