quinta-feira, outubro 23, 2008

A Visão que vem do Atlântico...artigo do Diário Económico




A visão que veio do Atlântico

A visão do futuro que se pretende para o arquipélago é verdadeiramente a notícia relevante que veio dos Açores.

Paulo Gonçalves Marcos

Eleições regionais nos Açores, a vitória expectável do PS, com as surpresas do crescimento do CDS e do BE. A perda de votos foi mais que compensada com a dimensão simbólica da vitória em todas as ilhas. Vitória aguardada, e deixada antever nas diferenças de adesão popular conseguidas, na mobilização de antigos quadros do PSD local ou mesmo nos meios comunicacionais desenvolvidos. Acima de tudo o PS Açores soube desenvolver uma máquina eficiente em capturar apoios europeus, para além das transferências do Orçamento Geral do Estado ou das capacidades endógenas de obtenção de receitas fiscais. Mas a conjuntura dos Fundos Europeus, favorável que possa ter sido, não oblitera o mérito de ter a capacidade técnica de os solicitar, preparando para o efeito as complexas candidaturas. Antes de tudo, contudo, a visão do futuro que se pretendia para o arquipélago. E esta é verdadeiramente a notícia relevante que veio dos Açores. Não o resultado de umas eleições mas uma visão traçada em meados da década pretérita, tendo como linha estratégica a transformação de uma economia regional assente no sector primário para uma outra capaz de coexistir com este mas potenciadora dos atributos comparativos dos Açores, via Turismo: paisagem e beleza cénica, mar, ruralidade, clima ameno… Atributos não únicos tomados isolados, mas capazes de serem ímpares se conjugados. Uma economia nova para o século vinte e um, assente num sector não poluente, capaz de estimular a qualificação dos recursos humanos e a sofisticação das técnicas de gestão dos grupos empresariais. Começando pelo desenvolvimento do transporte aéreo, como forma de quebrar o ciclo vicioso: de falta de massa crítica, baixas rendibilidades, incapacidade de atrair capitais com que o sector do transporte aéreo regional se vinha defrontado. Ou, na gíria económica, introduzindo investimento do governo regional como forma de trazer “externalidades” positivas ao sector do Turismo nos Açores. Aproximando estes dos principais mercados emissores. Como resultado, a oferta e a procura dirigidas ao Turismo dos Açores a crescerem a taxas compósitas de dois dígitos, ao longo de mais de uma década. Um crescimento de mais de 200% no volume de negócios ou no emprego turístico da Região. Complexos turísticos integrados, hotéis modernos, empresas de animação e guias turísticos, desenvolveram-se de forma exponencial. Mas também a restauração, os centros interpretativos (forma moderna de fazer pequenos museus que são experiências vivas e interactivas), portos e náutica de recreio beneficiaram de forma exponencial. O Turismo dos Açores tem sido capaz de captar da atenção dos turistas continentais portugueses (e a sagacidade de usar o ‘product placement’ nas telenovelas da TVI a isso ajudou decisivamente) e nórdicos (com o trabalho feito pela Região e pelos empresários locais nos agentes e operadores da Escandinávia). E, caso ímpar no panorama nacional, o Turismo é já o segundo principal sector da Economia Regional (mas caminhando a passos largos para ser o mais proeminente). Mas os Açores fizeram mais que um boa visão e execução. Reconheceram, recentemente, que o paradigma do turista estava a mudar: contemplativo e tradicional, estagnado e em potencial declínio; haveria que desenvolver uma nova estratégia para servir os segmentos afluentes emergentes. Para o efeito, a aposta na captura de novos nichos de mercado, desenvolvendo as indústrias relacionadas e de suporte locais, especializando a oferta, desenvolvendo as capacidades de Gestão, de sistematização de Informação (com o Observatório Regional do Turismo) e de integração da Oferta (via Associação de Turismo dos Açores). E para além de Carlos César, existe um outro responsável pela visão e irrepreensível execução estratégica para o Turismo dos Açores: Duarte Ponte, secretário Regional da Economia. Os baixos níveis de desemprego, a actividade económica dinâmica do sector privado e o reforço das estruturas públicas, têm a marca do secretário Regional. Ou seja, se os eleitores também votam com a carteira, o PS Açores deve muito da vitória à sua economia!

www.antonuco.blogspot.com
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Paulo Gonçalves Marcos, Economista

Comentários
Antonio Moreira
Sendo madeirense, confirmo que os Açores seguiram o modelo de AJJardim...obra pública a rodos, rendimento social de inserção...e turismo. Nos açores, mérito seja feito, uma aposta mais selectiva neste, menos estragadora da paisagem
Paulo Curto de Sousa (curtodesousa@gmail.com)
O bom aproveitamento dos apoios disponíveis (nomeadamente os europeus) é uma condição essencial para promover o desenvolvimento de qualquer região (sobretudo as periféricas). Nem sempre foi assim no Continente... Abraço.
DM
Caro Dr. Paulo Marcos Sendo açoriano concordo que nos últimos 12 anos Carlos César tenha deixado uma marca e obra de relevância e sucesso inegável. Porém não acho que haja assim tanta dinâmica privada ou mesmo emprego (falo do emprego qualificado). O Turismo podia ser um sector a apostar, mas com a forte crise mundial o público-alvo vai começar a cortar nas despesas e as viagens vão ser o primeiro "luxo" a acabar. Quanto ao mercado nórdico falado, era dito em voz alta nas minhas ilhas pelos principais responsáveis hoteleiros que estes turistas eram do tipo desinteressante e não lucrativo, porquê? Ora...comiam nos quartos de hotel uma sanduíche e bebiam um vinho rasca comprado num hipermercado em vez de irem a um restaurante, por outro lado o governo regional subsidiava a grande parte da viagem - no fundo era um mercado fictício. Para acabar, tenho esperanças que os Açores se desenvolvam realmente, pois as pessoas merecem. É uma região muito pobre e ainda hoje penso se o actual investimento de 60M€ nas "Portas do Mar" terão sido realmente um investimento ou infelizmente um grande custo! Cmps
Bruno Valverde Cota
A aposta na captura de novos nichos de mercado, novas indústrias locais, oferta especializada, nas capacidades de Gestão, foi claramente ganha. Um bom exemplo de estratégia política e local, com uma perspectiva global.
vg
De acordo com A.Moreira.Aquilo é "jardinismo light"...
Anabela
Ainda assim aposto que o PS Nacional não vai aproveitar ninguém dos Açores para dar um novo impulso ao governo da republica. ou seja, obra feita só conta para dar o "pulo" se for em Lisboa e na CML... Parabéns ao colunista
Manuel Pestana
Eu gosto do colunista. Escreve de forma diferente. Erudita. Mas não posso estar de acordo com o tema desta coluna. O desperdício parece ser a tónica dominante dos governantes das ilhas. Um gasto desproporcionado,face ao benefício líquido social.
Marco Cardoso (marco.cardoso@cco-consulting.com)
Parabéns Paulo por trazeres o tema para debate. Que tal os Açores promoverem um estudo para identificar os factores que promovem o desenvolvimento noutras ilhas/arquipelagos do Planeta. Existem tantos casos de sucesso. Com cada vez menos tempo... é cada vez mais importante não andarmos sempre a inventar a roda... Existem nichos para os Açores que não estão minimamente identificados... Porque não pensar em mercado nórdico (Islândia, Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca) em vez de mercado escandinavo (Noruega e Suécia)? Um abraço,

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