A nova era da modernidade (publicado na quarta-feira dia 20.06.2007)
Os anunciantes estão a dedicar uma atenção crescente às formas não tradicionais de comunicação.
Paulo Gonçalves Marcos
Pela sua abrangência e potencial de atingir alvos, as acções de comunicação constantes dos planos de ‘marketing’ das empresas tendem a incluir a publicidade em lugar proeminente. É pouco comum assistir-se ao lançamento ou ao relançamento de um produto sem uma dose considerável de investimento em publicidade. Contudo, um conjunto de factores está a fazer com que o predomínio da publicidade esteja em erosão, impulsionando os anunciantes a desviarem parte crescente de seus orçamentos para formas não tradicionais de comunicação: fragmentação de audiências; o fenómeno do ‘zapping’ e o esbater das fronteiras entre a publicidade e o entretenimento, removendo o domínio do conteúdo e da mensagem tradicionalmente veiculadas em anúncios. Em síntese, as várias forças em acção parecem que estar a retirar o domínio da mensagem das mãos dos anunciantes e a colocá-lo cada vez mais na mão dos consumidores. Para tentarem recuperar, ao menos parcialmente o seu domínio, os anunciantes estão a dedicar uma atenção crescente às formas não tradicionais de comunicação, mormente a:
• promoções cruzadas (Cooperação). Exemplos incluem sacos de compras (em Portugal o famoso saco de plástico do Expresso, com faces ocupadas pela Microsoft e pela HP);
• patrocínios (Associação). Procura-se a associação de uma marca com um determinado acontecimento (MillenniumBCP e o Rock in Rio Lisboa; BES e a vinda de Kofi Annan a Lisboa para a Conferência do Futuro Sustentável);
• colocação de produtos e serviços (Ocupação espacial). A ideia é a de oferecer aos anunciantes um ambiente envolvente em que o público está cativo. Em viagens de avião de longo curso, nas zonas de espera das consultas hospitalares ou das agências bancárias, nos tabuleiros das cantinas universitárias, nos pacotes de pipocas dos cinemas multiplex, as oportunidades e os exemplos abundam.
A Comunicação Tradicional, com expoente máximo na publicidade, acredita num modelo de resposta clássico, em que dos clientes se espera que façam uma progressão ao longo dos diversos estádios: da tomada de conhecimento e consciência sobre um produto ou serviço e respectiva marca, para um estado de preferência activa (em comparação com as alternativas) até a um estádio que culmina na aquisição e repetição da compra. As movimentações ao longo dos estádios são razoavelmente lentas, fruto de um processo cognitivo onde a publicidade desempenha um papel muito relevante nos primeiros estádios.
A Comunicação não tradicional centra-se no primeiro estádio, na tomada de consciência. A tomada de conhecimento implica, antes de mais, exposição mediática e visibilidade. Desejavelmente estas provocarão um efeito de “burburinho”, onde as pessoas falam umas às outras do produto, serviço ou marca. Onde a marca entra nas conversas quotidianas das pessoas, nos momentos de convívio, nos locais de trabalho e de reunião. Ou seja, a Comunicação Não Tradicional poderá ser muito rápida e é dominada pelas iniciativas dos consumidores e cidadãos anónimos, através de fenómenos de difusão largamente espontâneos. O “passa palavra” entre amigos e colegas é mais poderoso e credível que as mensagens formatadas e pagas pelas empresas. Este passa palavra é mais emocional e em certo sentido mais enraizado nas preferências culturais, nas atitudes e valores que norteiam uma sociedade. A essência do processo de comunicação é a transformação dos clientes pioneiros em missionários, capaz de fazer proselitismo a custo zero. Capazes de apostolarem com entusiasmo e dedicação. Como os conteúdos da comunicação não tradicional não são vistos como operações de marketing comercial, podem ser mais credíveis que publicidade convencional. Ipod, o browser Firefox, o filme The Blair Witch Project ou o automóvel Mazda MX-5, são fantásticos exemplos de marcas cuja “mensagem” foi transmitida por consumidores deliciados!
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Paulo Gonçalves Marcos, Gestor, Professor universitário