quarta-feira, julho 18, 2007

A fuga dos jovens cérebros e o www.euvoto.eu no Diário Económico





O mercado do talento português

Muitos dos melhores e dos mais brilhantes emigram para Londres, Nova Iorque ou Madrid e dificilmente voltarão a Portugal.

Paulo Gonçalves Marcos

Na coluna de hoje quero partilhar com os leitores um pouco da minha experiência com aquilo que está a acontecer ao mercado do talento português, a partir de três realidades exemplificadoras. Londres, Fevereiro de 2007. Recolha de bagagens no aeroporto. Um Domingo, ao final da tarde. “Olá, professor está bom?” E a cena repetir-se-ia mais três vezes no mesmo local. Nos dias seguintes ao longo da City e do Soho, na Chinatown ou em Canary Warf, perdemos a conta às pessoas que conhecemos oriundas de Portugal. De comum, a todas elas, o facto de terem idades abaixo dos 40 anos, licenciaturas e formação superior em áreas de Economia, Gestão de Empresas, Engenharia, Biologia, Arquitectura…Uns porque não encontraram nas suas áreas de formação académica oportunidades de desenvolverem uma carreira e um projecto profissional. Outros, quiçá a maioria, em Londres encontraram emprego e desafios profissionais em algumas das maiores empresas do mundo, com salários e remunerações globais que são três, quatro e mais vezes superiores às que encontrariam em Portugal. Uma verdadeira caça ao talento português. Nos bancos de investimento, nas grandes corretoras, nas gestoras de fundos e patrimónios, nas empresas de grande consumo, nos laboratórios farmacêuticos e nos ateliers de arquitectos famosos. Em três meros dias dezenas de encontros casuais. Cheguei a pensar que estaria algures em Lisboa ou no Porto… Mas afinal não foi mais que o confirmar da minha percepção que muitos dos melhores e dos mais brilhantes emigram para Londres, Nova Iorque ou Madrid. E que dificilmente voltarão a Portugal. Um ‘brain drain’ silencioso, que vai minar a capacidade de as empresas portuguesas e o país darem o grande salto em frente na produtividade, única forma de singrar num mundo globalizado.

Carlos Encarnação Oliveira, presidente da APPM (www.appm.pt) acaba de ser eleito por unanimidade presidente da European Marketing Confederation, o órgão de cúpula dos profissionais de ‘marketing’ na Europa. Uma marca distintiva para os profissionais do talento portugueses. Porque os gestores e os ‘marketeers’, tais como outros profissionais, actuam no mercado do talento. Uma eleição que tem o mesmo peso simbólico, conquanto não mediático, que a eleição de um português para presidente da Comissão Europeia ou da UEFA (esta ainda não aconteceu).

www.euvoto.eu, é uma comunidade cívica criada por uma equipa de académicos para auscultarem a opinião dos cidadãos sobre questões cívicas, políticas e comerciais. De adesão livre, permanente, e obedecendo às mais escrupulosas regras de protecção dos dados pessoais dos membros. Em poucos dias várias centenas de pessoas aderiram à comunidade e participaram nas suas actividades. Uma sondagem ‘online’, sobre a intenção de voto para a eleição à presidência da Câmara de Lisboa, complementada com um jogo de Bolsa Política. Ao invés de acções de empresas cotadas, a Bolsa Política tinha doze títulos, correspondentes aos candidatos em disputa eleitoral. Comprar na baixa para vender na alta, a ideia central de qualquer investidor bolsista, também se aplicava aqui. E, à semelhança do que acontece noutros mercados, também os “jogadores” revelaram uma impressionante capacidade de vaticinarem, de forma muito precisa, as votações que os principais candidatos obteriam. De facto, mercê de um algoritmo desenvolvido para o efeito, combinando as duas ferramentas, a sondagem ‘online’, por um lado, com a Bolsa Política, por outro, a www.euvoto.eu fez história. A um custo quase negligenciável! Duas ideias inovadoras, desenvolvidas em prazos muito curtos e com resultados impressionantes: uma sondagem razoavelmente precisa e um jogo que para além de ser inovador na Europa Continental, destronou em número de participantes outras iniciativas bem mais maduras de além mancha. O êxodo dos jovens cérebros, a eleição de um português ou a inovação na pesquisa de intenções de voto e opiniões, revelam que o talento português produz resultados e reconhecimento de nível internacional. Compete a todos nós criarmos as condições e a atitude para que todo este talento possa frutificar e beneficiar Portugal.

paulo.marcos@marketinginovador.com
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Paulo Gonçalves Marcos, Gestor e professor universitário

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