quarta-feira, dezembro 15, 2004

As Farpas: artigo do Professor César das Neves

Portugal está mesmo em crise. Acaba de sair uma nova edição d'As Farpas de Eça de Queiroz preparada pela prof.ª Maria Filomena Mónica (Principia, 2004).Isso foi pretexto para vários comentadores notarem a semelhança entre as tristes descrições do genial romancista e as actuais. Ler os textos de 1871-72 é como ler os nossos jornais.Ninguém referiu o profundo abismo que nos separa do Portugal de Eça.A nossa taxa de mortalidade infantil nos finais do século XIX andava pelas 150 mortes por mil nascimentos; agora está em quatro. O analfabetismo caiu de 88% para menos de 9%. A esperança de vida ao nascer subiu de menos de 40 anos para mais de 75 e o nível de vida aumentou quase 40 vezes no período. O Portugal d'As Farpas estaria hoje ao nível da Serra Leoa, Tanzânia ou Burundi. A violenta prosa de Eça criticava outro mundo.Mas em certo aspecto a semelhança é justa e adequada. Se no campo económico-social o País ultrapassou os seus sonhos mais ambiciosos, há coisas que se mantiveram ou até pioraram. Por exemplo, a qualidade dos políticos não subiu e a dos comentadores degradou-se muito desde o tempo em que a assinatura era de Eça ou Ramalho. Sobretudo permaneceu o elemento que estava no centro da crítica d'As Farpas e que volta a estar no núcleo da actual crise.Este processo desde 1974 está ligado a três D's. Nos primeiros dez anos a preocupação central foi a Democratização; nos dez seguintes foi o Desenvolvimento; nos últimos dez anos veio a Dissipação. Passados os choques da revolução de Soares e da Europa de Cavaco, deu-se uma imperceptível mudança estrutural na sociedade. Desde Guterres, o País aproximou-se decisivamente do Portugal de Eça.Basta abrir os jornais para notar que as preocupações nacionais centram-se hoje em vários grupos, com apenas uma única coisa em comum: o seu sucesso é independente do progresso.Políticos, jornalistas, funcionários, juízes, médicos, professores, polícias, militares, diplomatas são pessoas excelentes, com serviços decisivos ao País. Mas as suas promoções e remunerações estão, em geral, desligadas da dinâmica económica. O seu prestígio, carreira e salário provêm, não da competência e qualidade, mas de prescrições administrativas, regras burocráticas, negociações partidárias. São os primeiros a saber que, mesmo que o País estagne, vivem seguros e recebem diuturnidades.O resultado está à vista. A recente divergência face à Europa não é grave, pois um país afasta-se sempre da média do grupo quando entra em queda. Preocupante é a hesitação e apatia da presente recuperação. Nestes meses de retoma da actividade, a economia portuguesa não reganha a vivacidade posterior às duas últimas recessões. O investimento não acelera. A Grécia e a Eslovénia já nos ultrapassaram. A paralisia vem dos que abancaram à mesa do Orçamento.Ninguém como Eça para o descrever: «Fomos outrora o povo do caldo da portaria, das procissões, da navalha e da taberna. Compreendeu-se que esta situação era um aviltamento da dignidade humana: fizemos muitas revoluções para sair dela. Ficamos exactamente em condições idênticas. O caldo da portaria não acabou. Não é já como outrora uma multidão pitoresca de mendigos, beatos, ciganos, ladrões, caceteiros, que o vai buscar alegremente, ao meio-dia, cantando o Bendito; é uma classe inteira que vive dele, de chapéu alto e paletó. Este caldo é o Estado.» (op.cit., p. 29).naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

terça-feira, novembro 16, 2004

Colin Powell

Colin Powell has quited the Bush administration. The first black man to have reached the highest echelon in the military hierarchy. The son of a Jamaican immigrant family.

It is a pity. He worked as a powerful chek and balance on the so called falcons inside the administration. Rational, balanced and with charisma.

His departure could biased the military and political views of the Bush inner circle. It could be dramatic.

sexta-feira, outubro 29, 2004

Blogger: Dashboard

Blogger: Dashboard

As empresas cotadas na Bolsa de Lisboa apresentam lucros históricos. Afinal o tecido económico português vai bem?

Marketing, Politics and Economy

Marketing, Politics and Economy

Duas assembleias gerais agitadas: Sporting Club de Portugal e Sport Lisboa e Benfica.
SCP revela montante astronómico de passivo. Deve ser preocupante, apesar de palavras do presidente do clube procurando relativizar o passivo e pedindo o necessário contraponto com o valor do activo. Correcto, mas como a experiência empresarial nos demonstra (e que procuramos transmitir a nossos alunos na Universidade) talvez tão importante quanto a solvabilidade seja a liquidez de uma empresa. E o SCP está numa situação complexa. Os bancos credores continuam a impôr uma redução das exigências de tesouraria. O orçamento anual com o futebol profissional foi sucessivamente reduzido de 25 Milhões de Euros (Me) para 20 e mais recentemente para 17 Me. Sensato. Mas o F.C.Porto aumentou-o para mais de 85 Me. Ganhar o campeonato este ano ou sobreviver à crise económica? Qual a estratégia vencedora? Aceitam-se comentários.

Esteve bem o presidente do SLBenfica ao defender que os restantes elementos da direcção do Dr. Vale e Azevedo deveriam ser poupados ao processo disciplinar e a um provável processo de expulsão. Revela grandeza.

O meu começo na blogosfera

Parece estranho. Fui dos primeiros cibernautas (ainda não existia a www, nem o Mosaic, nem o IE ou o Netscape,...) em Portugal.
Mas devo ser um dos últimos aderentes à blogosfera.
Não cansa de me espantar a quantidade e o perfil de gente que tem um blog: desde a geração "early adopters" (escritores, políticos, universitários, jornalistas) aos indivíduos mais improváveis (executivos muito ocupados, empregados administrativos, reformados, etc), pelo menos sob o ponto de vista de adopção de novas tecnologias de comunicação.

Irei tentar comentar assuntos de Política (mas não partidária), Economia e Gestão de Empresas e ainda um tema transversal, Marketing.